Roberta Veiga
Através de alguns filmes de gesto autobiográfico, como os de Agnès Varda, Chantal Akerman e Flávia Castro, pretende-se pensar o cinema como forma de resistência às estratégias dominante de espetacularização do eu. O pressuposto é de que tais filmes resistem ao incorporar a fragilidade do aparato cinematográfico, os limites da linguagem e até mesmo a impossibilidade como matéria de sua expressividade. Distante do “eu” visual, pra quem a tela é um meio de gerenciar sua própria exposição, nesses filmes, junto ao reconhecimento da impotência do aparato frente a vida, emerge um “eu” descentrado que só pode existir numa passagem pelo outro, o de fora, que é, em sua imprevisibilidade, fugidio. O intuito é percorrer possíveis trajetos dessa passagem a partir de quatro traços que se interceptam e que definem, no engendramento do mecanismo e em seu funcionamento formal, a resistência. São eles: a processualidade que caracteriza os atos de busca; a inscrição de uma história coletiva pela escrita de si; os deslocamentos temporais; e a dimensão inacabada e/ou proliferante do filme.