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Já Visto Jamais Visto: devir memória ou a potência histórica na escrita de si

por Roberta Veiga


Pode o cinema do eu alcançar um movimento histórico não pelo conteúdo da vida vivida, mas pelo gesto de colocar imagens em relação? Em Já Visto Jamais Visto (2013), Andrea Tonacci se inscreve na escritura fílmica, porém, ao fazê-lo, subverte a dimensão autobiográfica e encarna imageticamente, através da experiência subjetiva e do trabalho do tempo, um gesto histórico em tudo oposto ao historicismo. A história deixa de ser entendida com um resgate do passado numa cronologia de grandes eventos e é experimentada como um sentimento vivido no presente do filme: processo e espectatorialidade. Ao se voltar para mais de 40 anos de trabalho, arquivos de imagens em vários formatos, o cineasta encontra a memória como esquecimento, visto que ela não está lá depositada nos rolos de filme, mas só existe, como diria Benjamin, no “tecido da rememoração” a ser urdido no ato de revisitar as imagens e montá-las cinematograficamente. Contra um dever de memória que, segundo François Hartog, nos é imposto frente ao “presentismo” contemporâneo, Tonacci se instaura num devir memória no qual o tempo é colocado em obra. Através da análise do uso disruptivo dos arquivos, da orquestração sonora e imagética, a proposta é pensar como, pela relação sempre incompleta entre o cinema e a memória, a montagem alcança – no entre-imagens e no fora-de- campo – a história em sua potência afetiva.

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