por Anna Karina Bartolomeu
Quando sentimos o momento do perigo se aproximar, não podemos rejeitar impunemente o apelo que nos fazem as imagens do passado, como nos ensina Walter Benjamin. Pretendemos aqui investigar como certa modalidade de imagem de arquivo – os retratos de identidade/identificação –, retomada pela arte e pelo cinema contemporâneos, pode acionar uma outra experiência para além de seu caráter funcional, fazendo ressurgir uma história dos vencidos. Pensamos, por exemplo, nas obras Imemorial, de Rosângela Rennó, Marcados, de Claudia Andujar, e no filme 48, de Susana de Sousa Dias. Por um lado, as fotografias retomadas carregam os vestígios de uma cena produzida sob as regras do poder disciplinar; por outro, tais vestígios são retrabalhados na tessitura das obras e concorrem para uma maior ou menor abertura das imagens, que possa trazer à luz o seu avesso.