O duplo jogo do cinema: fonte de história, potência espectral

Sylvie Lidenperg

Resumo : Puxando algumas linhas de meu livro La voie des images (Verdier, 2013), retraço duas histórias de filmagens na primavera-verão de 1944 nos campos de internação de Terezin, na antiga Tchecoslováquia, e de Westerbork, nos Países Baixos. Trata-se de colocar em prática uma « visão próxima » do cinema, atenta aos detalhes e aos planos de fundo, inspirada no modelo estabelecido pela pintura de Daniel Arasse no momento em que ele defende « uma prática próxima do pincel e do olhar ».

A volta ao ponto de origem da tomada permite entrever o universo mental daqueles que filmaram, de interrogar seus gestos e suas escolhas. Ela revela seu imaginário do acontecimento, sua vontade de conformá-lo à ideia que dele fazem, suas eventuais dificuldades em apreender seu desdobramento. Esses planos conservam também aquilo que escapou ao olhar do fotógrafo. Os planos analisados abrem o caminho, até em suas fragilidades e incompletudes, a uma história do sensível inscrita mais próxima dos corpos e rostos dos sujeitos filmados. Eles introduzem questões tais como o lugar da arte no coração da barbárie, as ambivalências da « colaboração artística », a capacidade do cinema de se tornar um instrumento de libertação ou resistência.

Francês: Tirant quelques fils de mon livre La voie des images (Verdier, 2013), je retracerai deux histoires de tournages au printemps-été 1944 dans les camps d’internement de Terezin en Tchécoslovaquie et de Westerbork aux Pays-Bas. Il s’agira de mettre en pratique une « vision rapprochée » du cinéma, attentive aux détails et aux arrières plans, inspirée du modèle établi pour la peinture par Daniel Arasse lorsqu’il préconise « une pratique rapprochée du pinceau et du regard ».

La remontée vers le point d’origine de la prise de vue permet d’entrevoir l’univers mental de ceux qui filmèrent, d’interroger leurs gestes et leurs choix. Elle dévoile leur imaginaire de l’événement, leur volonté de le conformer à l’idée qu’ils s’en font, leurs difficultés parfois à en saisir le déroulé. Ces plans conservent aussi ce qui échappa au regard de l’opérateur. Les plans analysés ouvrent ainsi la voie, jusque dans leur fragilité et leurs manques, à une histoire du sensible inscrite au plus près des corps et des visages des sujets filmés. Ils engagent des questions telles que la place de l’art au cœur de la barbarie, les ambivalences de la «collaboration artistique», la capacité du cinéma à devenir un instrument de libération ou de résistance.

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